Resumo comentado do texto “Psicologia moral” de Flavio Williges

O texto “Psicologia moral” de Flavio Williges tenta trazer possíveis respostas para questões pertinentes a Psicologia moral, área da Ética que busca estudar quais os determinantes e fatores psicológicos do comportamento moral. Parte do pressuposto que os padrões morais possuem força normativa e deixam traços psicológicos que após serem interiorizados deixam padrões psicológicos específicos. O autor disserta sobre os seguintes tópicos: O que nos motiva a agir moralmente?; Qual a relação das emoções com o comportamento moral?; qual a relação entre felicidade com a moralidade?; o que é o caráter e o que são as virtudes e como ambos influem nos padrões psicológicos relacionados a moralidade?; existem diferenças no desenvolvimento do raciocínio e no tipo de avaliação moral de homens e mulheres; e a relação da identidade com o comportamento moral.

Há dois conceitos de moralidade que traz o autor. Um primeiro que estuda os comportamentos específicos associados à moralidade como vinculados a um sistema racional ou normativo baseados em princípios do dever ou obrigações. O outro analisa questões como por exemplo que tipo de vida viver, que tipo de pessoa ser; que vida vale a pena ser vivida?; que traços do caráter necessários para a felicidade humana? Ou seja, segundo autores como Taylor, há dois padrões de abordagem da ética: uma centrada na ação obrigatória ou boa conduta e uma naquilo que é bom ser. Ao meu ver, ambos devem se complementarem: com o uso da lógica análitica descobrir quais princípios e formas de agir são os mais corretos, em harmonia com a realidade, junto do trabalho de desenvolver o seu caráter e virtudes, fazendo da vida ter um significado maior e se utilizando de uma racionalidade substantiva e não puramente instrumental.

Sobre o problema de o que nos motivaria a sermos morais, o autor traz três doutrinas diferentes: a instrumentalista que crê que as pessoas são motivadas quando elas formam crenças de como corresponder a desejos preexistentes. A doutrina cognitivista da ação moral, que vê o desejo somente como um estímulo a ação, por entender-lo como algo que gera um impulso comportamental, sendo este impulso algo que não pode ser a fonte da consideração moral. Para o cognitivista, a motivação moral começa com um conteúdo cognitivo (crença ou pensamento) sobre quais ações são as corretas. Já quem segue a doutrina sentimentalista defende que a ação moral deve ser impulsionada por certas emoções. O autor também traz um problema para as crenças que dão ênfase no papel da cognição e da crença na ação moral, que é quando o agente diverge de suas crenças morais na hora de agir, chamado pelos gregos de akrasia.

No tocante às emoções,  Willigies traz argumentos de outros autores que mostram que as emoções são indissociáveis de juízos de censura moral, dando ênfase nas emoções reativas, e que defendem que elas que realmente justificam e dão o teor moral das avaliações morais que fazemos.

Depois, o autor traz algumas problemáticas das diferenças entre gêneros, partindo da premissa de que se há diferenças físicas entre homens e mulheres, poderiam haver diferenças psicológicas na maneira de lidar com questões morais? Para tentar trazer respostas à questão, Willigies traz a teoria do desenvolvimento moral de Lawrence Kohlberg, que teorizou sobre os estágios do desenvolvimento moral e fez estudos onde apresentava dilemas morais a crianças e as entrevistava tentando descobrir se elas percebiam que haviam valores morais em jogo. Em um destes dilemas, um personagem chamado Heinz necessita de um remédio para dar a sua mulher que está morrendo por causa de um câncer e por o farmacêutico estar cobrando um valor demasiadamente alto, decide invadir a loja dele e roubar o remédio para sua esposa. O autor do texto afirma que Kohlberg notou diferenças na forma como meninos e meninas resolviam o problema e trouxe o exemplo do menino Jake, de onze anos, que disse que o marido deveria roubar o medicamento. Já Amy, também de onze anos, afirmou que Heinz deveria usar outros métodos para conseguir o remédio, como fazer um empréstimo e que roubando-o poderia ser preso e não poder mais ajudar a sua esposa caso ela adoecesse novamente. Na avaliação de Kohlberg, a maneira de Jake responder o dilema está em um estágio mais avançado do de Amy, o que lhe rendeu algumas críticas, como a da professora Carol Gilligan, que vê a ética de Amy não inferior a de Jake, mas somente diferente. Jake tem uma ética mas pautada em princípios universais, como o de justiça e Amy uma ética mais voltada no trato com as relações. Há também estudos mais recentes que apontam que nossos laços de cuidado e preocupação não estão separados da justiça (Willigies, 2013). A respeito da questão central, se há uma diferença na psicologia moral de homens e mulheres, me abstenho de dar uma resposta em definitivo, porém, tenho a tendência de crer ser algo que parte mais de cada indivíduo do que algo que venha ser causado por diferenças biológicas de cada gênero, apesar de reconhecer que possa haver a possibilidade de tais diferenças influírem na constituição da psicologia moral de cada um.

Já sobre o caráter e a psicologia moral, o autor afirma que os defensores das ética das virtudes, vêm estas juntamente do caráter como centrais na ética. O autor descreve virtudes e caráter respectivamente como:  “traços característicos do que é bom ser e fundam o caráter moral. O caráter são traços morais persistentes, que se manifestam no comportamento intersubjetivo e são reconhecidos ou valorizados no interior de um determinado grupo ou comunidade moral”. Willigies traz autores, como Merritt, Doris e Harman (2010), que defendem que experimentos fornecem evidência que o comportamento preocupado com consequências das ações não estão envolvidos conceitos como o do caráter, mas que é algo mais situacional, sendo as pessoas influenciadas por motivos de pouca significância a realizarem ações boas ou más. Apesar de não ter argumentos para fundamentar uma crítica direta a tais experimentos, ao meu ver a virtudes só podem ser demonstradas em situações que nos desafiam a sermos virtuosos, não em situações normais.

Sobre a felicidade o autor traz argumentos que demonstram que há uma relação entre felicidade – como emoções positivas em geral – gerando condições favoráveis para boas ações.

Por fim, sobre o “eu moral”, Willigies parte da teoria do filósofo inglês Bernard Williams, que argumenta haver um efeito de separar do “agente moral dos interesses e compromissos que forma a estrutura real da sua vida individual”, causado por estas formas de motivação impessoal. Williams sustenta que é necessária uma identificação dos indivíduos com as atitudes motivadoras que estes estãp sujeitos. Ele defende a importância de uma projeto fundante que dá direção para a vida e definem aquilo que pode ser feito e nesse pano de fundo estão as ações morais como uma imposição pessoal, próprias do sujeito.

Referência:

WILLIGES, Flavio. Psicologia moral. JC Brum torres, Manual de ética, Vozes. Petrópolis, p. 173-200, 2013.

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