Ética dos Desastres: considerações sobre o campo e sugestões de leitura

Tendo dimensões continentais, os desastres de natureza ambiental e climática se constituem como um problema crônico e recorrente no Brasil (Valencio, 2014), representando um grande desafio para os governos e comunidades (Pedroso & Holm-Nielsen, 2017). Como eventos recentes e de grande magnitude dessa natureza que ocorreram no início de 2019, pode-se citar a tragédia da Vale em Brumadinho (MG), ocasionada por um rompimento de barragem, e o maior temporal dos últimos 22 anos no Rio de Janeiro (RJ), que provocou deslizamentos e mortes.

Esses tipos de desastres apresentam problemas únicos, com peculiaridades e situações desconhecidas nas quais questões éticas muitas vezes se manifestam por meio de conflitos internos e externos; dúvidas; inseguranças; valores e objetivos diferenciados e conflitantes; pressões políticas, de empresas privadas, da opinião pública, da sociedade civil; entre outros (Aung et al., 2017).

Ainda de existam estudiosos que se esquivam de discussões morais ligadas aos eventos de desastres, com base na premissa de que tais tragédias não são causadas por agentes morais, a filósofa e professora Naomi Zack da University of Oregon (Estados Unidos), defende que questões morais/éticas em situações de desastres dizem respeito ao bem-estar geral e às razões pelas quais as pessoas têm uma obrigação moral de não prejudicar os outros e de ajudar os que sofrem ou necessitam (Zack, 2010).

Mesmo com esse alerta, Etkin e Timmerman (2013) esclarecem que, embora a ética tenha papel importante para o gerenciamento de emergências, os trabalhos sobre ética dos desastres têm recebido insuficiente atenção por parte da literatura acadêmica e profissional da área. Essa situação é ainda pior no Brasil, onde os trabalhos ainda se encontram em situação incipiente. Contudo, essa carência não está associada à realidade e ao histórico brasileiro de desastres.

De forma particular, esse assunto passou a chamar minha atenção logo que iniciei o Doutorado em Administração Pública e, desde então, passei a me dedicar ao estudo sobre a Ética dos Desastres ou Ética na Gestão de Emergências. Com o objetivo de fomentar essa discussão no Brasil, elaborei uma lista com indicações de artigos, livros e websites que abordam a temática para compartilhar e contribuir, principalmente, com acadêmicos e profissionais (técnicos e gestores) das áreas de Gestão Pública e Gestão de Riscos e Desastres (Proteção e Defesa Civil).

WEBSITES:

LIVROS:

  • Etkin, David (2016). Disaster Theory: An Interdisciplinary Approach to Concepts and Causes. Elsevier.
  • Jenson E. (1997). Disaster Management Ethics. UNDP Disaster Management Training Programme. Disponível em: http://www.disaster-info.net/lideres/spanish/mexico/biblio/eng/doc13980.pdf
  • Stengers, I. (2015). No tempo das catástrofes: resistir à barbárie que se aproxima. São Paulo: Cosac & Naify.
  • Saban, L. I. (2016). International Disaster Management Ethics. Albany: Suny Press.
  • Saban, L. I., & Berdugo, G. (2017). Ethics Management in the Public Service: A Sensory-based Strategy. London, New York: Routledge.
  • Zack, Naomi (2009). Ethics for Disaster. Lanham, MD: Rowman & Littlefield.

ARTIGOS:

  • Aung, K. T., Rahman, N., Nurumal, M. S., & Ahayalimudin, N. (2017). Ethical Disaster or Natural Disaster? Importance of Ethical Issue in Disaster Management. Journal of Nursing and Health Science, 6(2), 90-93.
  • Etkin, D., & Timmerman, P. (2013). Emergency management and Ethics. International Journal of Emergency Management, 9(4), 277-297.
  • Feldhaus, C. (2011). A Ética dos Desastres. Filosofia (São Paulo), São Paulo, 22-29.
  • Feldhaus, C. (2011). É o utilitarismo a melhor concepção normativa para desastres? In: III Encontro de Egressos e Estudantes de Filosofia da UEL, 2011, Londrina. Anais do III Encontro de Egressos e Estudantes de Filosofia da UEL. Londrina: UEL.
  • Feldmann-Jensen, S., Jensen, S., Smith, S., & Etkin, D. (2016). Toward a substantive dialogue: The case for an ethical framework in emergency management, Part 1. Australasian Journal of Disaster and Trauma Studies, 20(1), 45-47.
  • Geale, S. K. (2012). The ethics of disaster management. Disaster Prevention and Management, 21(4), 445-462.
  • Mattedi, M. (2017). Dilemas e perspectivas da abordagem sociológica dos desastres naturais. Tempo Social, 29(3), 261-285.
  • Tavares, L. M. B., & Barbosa, F. C. (2014). Reflexões sobre a emoção do medo e suas implicações nas ações de Defesa Civil. Ambiente e Sociedade, 17(4), 17-34.
  • Valencio, N. (2014). Desastres: tecnicismo e sofrimento social. Ciência & Saúde Coletiva, 19(9), 3631-3644.

Referências utilizadas no texto do post:

Aung, K. T., Rahman, N., Nurumal, M. S., & Ahayalimudin, N. (2017). Ethical Disaster or Natural Disaster? Importance of Ethical Issue in Disaster Management. Journal of Nursing and Health Science, 6(2), 90-93.

Etkin, D., & Timmerman, P. (2013). Emergency management and Ethics. International Journal of Emergency Management, 9(4), 277-297.

Pedroso, F.; Holm-Nielsen N. (2019). Desastres Naturais no Brasil: um ciclo de tragédias anunciadas, 2017.  Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/ensaio/2017/Desastres-Naturais-no-Brasil-um-ciclo-de-trag%C3%A9dias-anunciadas. Acesso em: 09 abr. 2019.

Valencio, N. (2014). Desastres: tecnicismo e sofrimento social. Ciência & Saúde Coletiva, 19(9), 3631-3644.

Zack, Naomi (2009). Ethics for Disaster. Lanham, MD: Rowman & Littlefield.

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